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Por que sempre vemos os objetos no passado?

Ao começar a cursar a disciplina de física no Ensino Médio, os estudantes se deparam em alguns materiais didáticos com o conteúdo de astronomia. Uma das primeiras perguntas que o educador ouve é a seguinte: é verdade que quando olhamos para as estrelas, estamos olhando para o passado? Essa pergunta está se tornando cada vez mais frequente e talvez a razão seja o aumento da divulgação científica crescente com o advento da internet. Além disso, na segunda metade de 2022, foi lançado ao espaço o Telescópio Espacial James Webb (JWST) - desenvolvido pela National Aeronautics and Space Administration (NASA), European Space Agency (ESA) e Canadian Space Agency (CSA). Ele é um observatório espacial com espelho de 6,5 m e que capta ondas eletromagnéticas na região do infravermelho. Devido a essas características, o James Webb é capaz de registrar a formação e composição de galáxias, estrelas e planetas.

Ao se deparar com a informação de que o telescópio registra a formação de uma galáxia, estrela ou planeta e entendendo que esses objetos demoram de centenas de milhões de anos até bilhões de anos para se formarem, é natural que pareça haver um conflito. Afinal, teríamos que esperar bilhões de anos para ver uma estrela se formar? Esse conflito é causado devido ao fato de sempre pensarmos que estamos enxergando os objetos instantaneamente, todavia, sempre os enxergamos no passado. É possível afirmar que o copo que você vê está mesmo onde pensa que está? Como pode garantir que alguém não o tirou do lugar onde pensa que o enxerga?

Sabemos que só enxergamos corpos que emitem ou refletem luz. Isso ocorre porque nossas células oculares fotorreceptoras são sensíveis às ondas eletromagnéticas na faixa de frequência visível, as quais chamamos de luz. Sendo assim, para que enxerguemos um corpo é necessário que a luz traga informação desse corpo até nós. Essa troca de informação não é instantânea, depende da distância relativa entre o emissor e o receptor e da velocidade de propagação da luz. A luz se propaga a 300 mil Km/s, pode trazer informações quase instantaneamente de um objeto que está há poucos metros do receptor. Quando a distância do emissor/receptor aumenta, o tempo de troca de informação pode ser de 8,3 minutos se o emissor for o sol e o receptor for a terra. A estrela mais próxima da Terra depois do sol é Alfa Centauri, a luz demora aproximadamente 4,3 anos para nos trazer informações dela. Já houve um período no qual recebíamos notícias de outros continentes com alguns meses de atraso, eram notícias do passado.

Noite estrelada, Van Gogh, 1889.

Imaginemos que a luz viaje à velocidade de 1 m/h, assim, só veríamos um objeto a um metro de distância, uma hora depois de que a luz interagisse com ele. Se nos perguntassem se o objeto está onde visualizamos, só poderíamos afirmar que há uma hora ele estava. Notamos dessa forma, que a precisão sobre a informação do objeto, aumenta com o aumento da velocidade de troca de informação, entretanto, sempre existe uma imprecisão, a menos que a luz se deslocasse instantaneamente. Logo, sempre estamos olhando para o passado. No nosso caso, o tempo de percepção visual entre dois eventos não depende apenas da velocidade da luz, depende também do tempo no qual o cérebro consegue processar dois eventos. Embora o tempo de processamento possa variar entre indivíduos e com complexidade da imagem, estudos indicam que essa variação é de 13 a 30 milissegundo - esses tempos correspondem aproximadamente às taxas de atualizações de 30 e 60 frames por segundo (fps). Desse modo, para objetos próximos, estamos vendo-os num tempo médio de 21,5 milissegundos no passado. É por essa razão que sempre olhamos para o passando, ele pode ser mais longínquo ou mais próximo, dependendo da distância objeto-observador. Será que esse raciocínio tem relação com o paradoxo dos gêmeos? Viajar junto com a luz representa tempo nulo?


Fernando Modesto Borges de Oliveira


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